Lilith
Lilith, é uma variação hebraica (e não judaica) da deusa
sumeriana Lil - que significa "tempestade" -, muitas vezes
reconhecida como a outra face de Inanna. Seu nome também parece estar
relacionado à "coruja", provavelmente pelos seus hábitos: uma
sinistra ave de rapina que se precipita, silenciosa, na escuridão, e que, não
obstante, também simboliza a sabedoria. Por outro lado, o mito hebreu fala de
como Lilith foi moldada de terra e esterco, provavelmente querendo refletir o
potencial da terra adubada - o que a relaciona, também, com a sexualidade e
fertilidade.
A história que podemos lembrar de Lilith começa com Innana,
a neta da deusa Ninlil, conhecida como "Rainha dos Céus". A história
de Innana e Enki nos fala dos costumes sexuais sagrados, que são a dádiva de
Innana para a humanidade.
Em seus templos se praticava a prostituição sagrada e suas
sacerdotisas eram conhecidas como Nu-gig. Os homens da comunidade buscavam a
Deusa nessas sacerdotisas e o ato sexual era sagrado, proporcionando a cura
física e espiritual. Nessa época, o nome de Lilith era o da Donzela, "mão
de Innana", que pegava os homens nas ruas e os trazia ao templo de Erech
para os ritos sagrados.
Entre 3000 e 2500 a.c., os sumerianos passaram a ter
contatos com culturas patriarcais. Estas, para poderem dominar aquele povo,
sabiam que deveriam atacar seu maior centro de poder: o templo do sexo sagrado.
Para que a conquista dos sumérios pudesse ter lugar, as culturas patriarcais
interessadas começaram a disseminar as ideias de repressão sexual, combatendo
como malignas as práticas sexuais milenares dedicadas à Deusa. As práticas
sexuais se tornaram então parte da sombra, o poder da mulher foi identificado
com o mal e o demoníaco...
Daí, através dos séculos, a Donzela Lilith, que buscava os
homens para o Templo de Innana, se tornou no patriarcado o símbolo do mal
supremo. Ela encarna de todas as formas e por milênios o medo atávico do homem
do poder sexual da mulher.
Mais ou menos em 2400 a.c. Lilith, o Espírito do Ar, foi
distorcida como a primeira mulher de Adão, como encontramos em muitos mitos,
como um demônio, que foi expulsa do Jardim do Éden. Lilith não é,
originalmente, da mitologia cristã ou judaica (e muito menos bíblica - e por
isso nem é mencionada nela).
Os hebreus não eram monoteístas como os judeus. Até pelo
contrário: eram politeístas. E pautavam sua vida pessoal e comunitária pelos
ciclos sazonais - o que os torna também pagãos. Só após a invasão e destruição
de Israel pelas forças babilônicas, no século VI a.C., é que começa a surgir o
Judaísmo, mais ou menos como hoje o conhecemos - monoteístas e patriarcais.
Os primeiros capítulos da Bíblia (Gênesis 1 a 3) não são os
escritos mais antigos desse livro. Sua articulação final data mais ou menos do
fim do Exílio na Babilônia e, portanto, traz uma profunda rejeição a tudo que
fosse ligado ao "inimigo". A Árvore da Vida, a Serpente e até a
própria figura da Mulher são tratadas com menosprezo exatamente para
estabelecer uma distinção.
No entanto, é interessante lembrar que o significado do nome
"Eva" é "MÃE DE TODOS", e Adão significa "FILHO DA
TERRA" - e isso já é suficiente para estabelecer sua antiguidade em
relação à própria Bíblia. Certamente trata-se de um mito passado de geração em
geração, via oral (como de hábito naqueles povos), que falava de uma GRANDE MÃE
e de seu Filho.
Lilith, na tradição matriarcal, é uma imagem de tudo o que
há de melhor na sexualidade feminina - a natureza da mulher, o poder do sangue
menstrual, que é o poder da Lua Escura. O período normalmente dedicado a
Lilith, naquela época, era exatamente o período menstrual. O momento em que as
mulheres poderiam ter relações sexuais livres da possibilidade de gravidez e,
por isso, tais relações estariam exclusivamente ligadas ao prazer (e não à
procriação, como era a perspectiva patriarcal). Assim, muitas vezes, se referiu
a essa Deusa como o "Espírito Menstrual".
A reação judaica foi muito rápida e fulminante: transformou
em pecado e tabu o sexo no período menstrual - uma artimanha para solapar o
culto a Lilith. A segunda foi criar "regras" para a relação sexual -
particularmente, regras que garantiam o prazer masculino, mas negava e proibia
o prazer feminino. Nesse quadro, Lilith figurava para as mulheres como a
experiência sexual capaz de integrar mente e corpo (pois estava livre da
gravidez), abrindo um caminho para os tesouros misteriosos do submundo
feminino. É encarada como a mulher positiva e rebelde, a que não aceita os
padrões patriarcais que marcam a menstruação com dores e vergonha.
Conhecer a figura de Lilith é lembrar de um tempo no passado
antigo da humanidade em que as mulheres eram honradas pela iniciação sexual,
onde expressavam sua liberdade e paixão natural .
Hoje, depois desses séculos todos de um patriarcalismo
opressor, Lilith volta como uma Deusa negra, ou seja, a energia feminina
trancafiada nos calabouços da psiquê de toda a humanidade: para os homens, ela
é um desafio; para as mulheres, um arquétipo.
O que significa reivindicar os poderes de Lilith para a
mulher de hoje? Na literatura mítica antiga havia 3 Liliths - que refletiam as
fases de lua crescente, cheia e escura:
A Lilith crescente era Naamah, a Donzela Sedutora
Donzela é a mulher indômita, selvagem, livre, vibrante de
energia, imprevisível como o vento. Sua resposta à vida é espontânea, vívida.
Totalmente objetiva. Por mais bela que possa ser, não anseia por estabelecer
relacionamento, mas para avaliar, experimentar e descobrir suas próprias formas
de ordem.
A mulher mais velha pode ter sido limitada ou reprimida na
juventude, e pode reivindicar a Donzela, conscientemente, para libertar seu
espírito e encontrar a sua direção. Muitas crises de meia-idade são forjadas
por uma Donzela enclausurada e confinada, precipitada muito cedo num casamento
convencional, sem oportunidade de explorar alternativas na sexualidade ou na
carreira.
Mulheres em motocicletas, em laboratórios, estudando as
florestas e matas, dançando num palco, discursando na plataforma política -
elas são a Donzela.
A Lilith Mãe era Nutridora
Na primavera ela abre seu corpo-terra para gerar crescimento
novo e brilhante. No verão, ela envolve com braços protetores a terra ardente.
Na época da colheita ela espalha amplamente sua generosidade, e, à medida que o
frio aumenta, ela aconchega os animais em suas tocas no inverno, puxando as
sementes para o profundo interior do seu útero até que volte a época do
reverdecimento.
A Donzela pode inspirar nossos atos criativos, mas a Mãe
está presente quando os produzimos.
E havia a Lilith Anciã, a Destruidora
Embora a Donzela seja procurada e a Mãe respeitada, a Anciã
recebe pouca atenção. Mas é na Anciã que o poder feminino realmente se torna
completo.
A Anciã é sábia, observadora, tecelã, conselheira. Conhece
os caminhos entre os mundos. Isso pode fazer dela uma personagem
desconfortável, mas é um repositório de sabedoria feminina, do conhecimento
acumulado da mulher que não menstrua mais, porém mantém dentro de si o depósito
do seu poder.
Na primeira, devemos confrontar as maneiras pelas quais nós
somos reprimidos, buscando recuperar nossa dignidade. Na segunda, devemos
integrar o desespero que vem de nossa rejeição, angústia, medo, desolação; e na
terceira descobrimos o poder da transmutação e da cura dela decorrente, uma vez
que ela corta nossas falsas retenções, desilusões e nos ajuda a encontrar nossa
essência livre e selvagem.
FONTE: Priscila Manhães
(((3fasesdalua.blogspot.com.br)))
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